tentativa de praticar a escrita a partir da criação de personagens antropomorfizados (ou não) que precisam encarar o tédio do dia-a-dia

3 de fev. de 2006

O rinoceronte covarde

Era uma vez um lindo rinoceronte. Seu rebolado mais parecia o de uma dançarina do Tchan. Cada vez que andava, era como se seu corpo esperasse um delay de 3 segundos para acompanhar, tamanha a sua gordura. Cada gesto seu era executado em slow motion, e todo movimento parecia que ia durar por toda uma eternidade.

Suas largas patas eram suficientes para fechar definitivamente os olhos de um formigueiro inteiro de uma vez só. Mas Rick era estranhamente solidário para com os demais animais, e sentia um misto de pena e inveja dos pequeninos. Ao mesmo tempo que sonhava em ser menor em tamanho (ele nunca se sentira totalmente adaptado ao seu imenso e flácido corpanzil), ele também detestava ver que os animais grandes geralmente se valiam de seu avantajado crescimento para intimidar os demais. Era contra esse tipo de injustiça que ele centrava suas lutas no Comitê de Defesa dos Animais na floresta.

No princípio, todos os animaizinhos acharam estranho quando um gigantesco rinoceronte candidatou-se ao cargo vago do Setor de Discriminação Entre Espécies. Mas foi só submetê-lo a uma entrevista que num instante Rick fora aprovado. Sua figura corpulenta e cinza era completamente sui generis naquele departamento, e, não fosse pelo comando-geral de Léo, o leão, ele seria o único animalzinho do Comitê que pesasse mais de 10kg. Era quase que uma tradição a ocupação dos cargos de alto escalão do governo florestal por animais pequeninos, pois só aqueles que não tivessem como se defender por conta própria é que iam ligar para a necessidade de se montar uma organização para se defenderem. Além disso, era impossível que todos os animais fizessem parte do Comitê, pois desse jeito não restariam bichinhos que pudessem ser usados como alimento.

Todos os membros do governo florestal precisavam seguir uma dieta exclusivamente à base de verduras, mas gozavam de certos privilégios, como a possibilidade de defesa grupal a qualquer sinal de perigo (bastava emitir um sinal, que todos os demais membros do comitê prontamente acudiriam). No princípio, fora extremamente complicado para o leão abandonar sua dieta à base de proteínas. Mas diante de um pouco de treino, beirando à tortura, Léo conseguiu finalmente parar de comer seus semelhantes.
O lema do comitê era: "somos animais e não devemos nos comer uns aos outros", já o objetivo principal era o de acabar com as diferenças entre os animais de diferentes portes que habitavam a floresta. Por isso tamanha estranheza quando um rinoceronte carrancudo candidatou-se ao cargo.

Mas Rick era diferente dos demais rinocerontes. Embora por seu tamanho ele normalmente não precisasse se preocupar com sua efesa, Rick era extremamente covarde. E, no menor sinal de perigo, ele simplesmente fugia. Assim, ele entrara para o Comitê não só para defender os interesses dos demais animaizinhos, mas também como uma forma de poder encarar seus inimigos sem medo.

A floresta ficava a meio caminho entre o bosque proibido e o jardim obscuro. Por isso às vezes circulavam por lá animais ferozes e estranhos, alheios ao pacto celebrado entre os animaizinhos da floresta, membros ou não do Comitê. Daí a necessidade de se elaborar planos de defesa, pois embora dificilmente os habitantes da floresta fossem se atacar entre si, sempre que algum inimigo cruzasse o território deles, era preciso encontrar maneiras de se defender.

O departamento de Rick era de suma importância, pois lidava com o relacionamento entre as diferentes espécies que habitavam a floresta. Animais tão numerosos quanto díspares precisavam conviver harmonicamente, e era isso que Rick, o rinoceronte, precisava assegurar que acontecesse na floresta. Para tanto, ele promovia festas e eventos.

Na verdade, Rick contava com o apoio de seu braço direito, Rony, o ratinho. Rony era quem realizava todas as negociações em nome do amigo. Era ele, também, quem defendia a imensa massa de covardia de ataques de outros animais. Embora um rinoceronte, por seu porte e corpulência, fosse raramente atacado, Rick era meio paranóico, toda hora achava que estava sendo atacado, ficava com medo e fugia. Rony era quem resolvia a situação, e para tanto, precisava negociar com animais até quarenta vezes mais fortes, velozes e pesados que ele. Ainda bem que ele era um ratinho eficiente...



* P.S.: O objetivo deste post era simplesmente criar uma personagem, para uma posterior história sobre ela (quem sabe?). Portanto, aguardem... em breve, momentos emocionantes com Rick, o rinoceronte... (ou não :P)

Histórias passadas

Outras informações

  • - Nas cinco primeiras histórias, a ênfase foi na criação e descrição de personagens. A ênfase atual é nos diálogos, e/ou na elaboração de um final para os textos.
  • - As sete primeiras histórias postadas fazem parte de um grupo temático arbitrariamente criado e intitulado "Amores impossíveis".