tentativa de praticar a escrita a partir da criação de personagens antropomorfizados (ou não) que precisam encarar o tédio do dia-a-dia

16 de jan. de 2007

O sorriso de Helena

Duas coisas me chamavam a atenção em Helena. A primeira era o sorriso. Quando a Helena sorria, parecia que o mundo todo se abria num imenso mar de felicidade. Os peixes saltavam para fora da água (mas voltavam, antes que se lhe faltassem o ar), as crianças pulavam de alegria, os penhascos se atiravam ao ar, as estrelas brilhavam mais fortes e a Lua se aproximava do Sol, cada vez que Helena sorria. Seus lábios se esticavam de tal forma que eu não duvidaria se a foto de Helena sorrindo fosse encontrada logo abaixo da definição da palavra sorriso em um dicionário ilustrado. A maneira que as covinhas de seu rosto se contorciam quando Helena sorria também era peculiar. Era como se uma pedra fosse jogada em um lago e provocasse infinitas reverberações concêntricas rumo à margem, sendo que, no caso de Helena, não havia margem: tudo era sorriso. E o mais importante de tudo: aquele sorriso era meu. Eu era o detentor exclusivo do sorriso de Helena. Helena só sorria quando me via.



A outra coisa que apreciava em Helena era o prato de macarrão, que só ela fazia do jeito que eu gosto. Mas Helena morreu. E, diferentemente de quando ela me via, Helena não morreu sorrindo. A morte, sentida pelos pássaros que pararam de piar e pelas formigas que, em homenagem a Helena, deixaram de estocar comida durante um dia, foi trágica. Um raio caiu do céu e atingiu Helena. No corpo, a expressão de dor era visível. Mas, ao menos em meus pensamentos, Helena continua sorrindo.

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Histórias passadas

Outras informações

  • - Nas cinco primeiras histórias, a ênfase foi na criação e descrição de personagens. A ênfase atual é nos diálogos, e/ou na elaboração de um final para os textos.
  • - As sete primeiras histórias postadas fazem parte de um grupo temático arbitrariamente criado e intitulado "Amores impossíveis".