Refém da autoconsciência
- Será que na fica muito idiota postar isto no blog?
- Ah, ninguém vai dar bola, vá em frente.
- É que, sei lá, tipo assim... Sou eu mesma, sabe?
- Mas e não é você, sempre, em seu blog?
- É. Cada post do blog acaba revelando, inevitavelmente, uma faceta de mim.
- Então, qual o problema?
- Ah, mas não é a mesma coisa. Os outros posts não são assim.
- Assim como?
- Assim... como é que vou explicar?
- Qual o problema, hein? Não é legal poder postar o diálogo?
- Acho que é justamente esse o problema.
- Poxa, diálogos são tão legais. E não ficam restritos à literatura. Podem aparecer também – por que não? – em posts de blog.
- É, mas os diálogos ficcionais são um pouquinho menos assustadores do que o diálogo com uma autoconsciência.
- Você está com vergonha de mim (que, na verdade, sou você mesma)?
- Não, não, longe disso. É só que... não parece nada normal travar um diálogo hipotético consigo mesma, e ainda mais postar isso, em um blog. O que os outros irão pensar?
- Ah, bobagem isso. Você anda meio paranóica, Gabriela. Pensando demais, agindo de menos. Aja!
- Mas... não é tão simples. Há vários fatores a se considerar.
- É simples, sim. Larga de frescura e posta logo isso. Vai em frente, arrisca.
- Não sei não. E olha bem quem está me aconselhando a fazer isso.
- Ora, quem melhor para lhe dar um conselho do que você mesma?
- Igual, igual...
- Deixa de ponderações e posta logo, senão...
- Senão o quê?
- Senão vou assumir o controle e passar a agir por ti.
- Não, não. Deixa que eu controlo as coisas por aqui, ok? Você só cumpre o seu papel de permitir que haja diálogo comigo mesma – o que possibilita a ponderação de argumentos.
- E, na qualidade de ponderadora, exijo que você poste logo.
- Ok, lá vai.
- Logo!
- Ok, ok. Foi. Deve ser algo inédito. Um post publicado a pedido da autoconsciência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário